domingo, outubro 21, 2012




Um velho calção de banho
Um dia prá vadiar
O mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar...

Vi e ouvi Toquinho, hoje, numa saudação à Primavera. Ele adentrou no palco simples, meigo, sereno. Cantou e encantou já na primeira melodia; Tarde em Itapuã. Já conheci a praia de Itapuã e, parcialmente os baianos, seus vícios, seus costumes, seus valores, suas crenças. Juntando a leveza do poeta cantor, a serenidade da praia de Itapuã e o despojamento do povo baiano, sinto que eu e o meu entorno ainda estamos tão distantes de tão sublimes sentimentos. Há um divisor de águas nos dois cenários que desenho em meu pensamento buscando entender a ontologia do ser. Um contexto que permite "um dia prá vadiar" e, na vadiagem, faz poesia, música e graça e, outro, que mesmo no dia de domingo, como hoje, não consegue "vadiar" porque amanhã tem compromisso, o trânsito congestiona e já está na hora de almoçar. Vi  várias pessoas saindo antes do show findar porque sabiam que após o término, todos sairiam em disparada lotando ruas, impossibilitando a chegada imediata ao destino, apesar dos carrões potentes. E qual será o destino? O destino não era hoje, curtir sem pressa a poesia que brota dos instrumentos e da voz de quem "vadiou" e, por isso produziu arte? Ah como a humanidade me cansa! Tive que me policiar para não empatar a beleza  do espetáculo com o "espetáculo" do mauricinho à minha frente que estava lá, mas não estava. Estava lá para apreciar, ou para ser apreciado? Levantava e sentava, falava ao celular, juntava pessoas, enfim queria ser notado e, a mim, causava ira. Por um momento pensei: e eu desejo estar aqui? Sou capaz de elevação de modo a ignorar quem queria ser notado. Sim, desejava, mas igualmente me perdia na irritação que tal sujeito me provocava. É certo que também não estava conseguindo vadiar. Poxa, como é difícil ser superior!

E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã
É bom!...

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