domingo, fevereiro 24, 2013


Amanhã iniciam as aulas na rede pública da minha cidade. Estamos retornando de um período de férias que foram marcadas por uma tragédia que ceifou a vida de jovens estudantes, aqui, no RS. Há menos de um mês, 239 jovens perderam a vida num encontro festivo onde a vida refletia, plena, em rostos, sorrisos, corpos, planos, sonhos.
No dia, 28/01, em meio a tantas informações e tantas apelações, encontrei,  numa colega da cidade de Santa Maria, local da tragédia, uma pergunta provocadora, sobretudo a nós, professores que temos a obrigação de promover o conhecimento. Dizia ela:

Não consigo conceber que o conhecimento não é colocado em prática: segurança, cuidado com as pessoas, noções básicas sobre proteção de multidões, incêndio... Sonia, estudamos para quê?



Precisei da filosofia, ou melhor, dos filósofos, para responder. Busquei, no velho Sócrates, que viveu a quase 500 a.C., palavras para responder a tão desafiadora pergunta. Dizia ele: "Só é útil o conhecimento que nos torna melhores."  Ora, se o conhecimento não serve para preservar a vida, serve para quê? por que o conhecimento não é colocado em prática? de que conhecimento estamos falando?
Estamos tristes, enlutados mas isto não serve para nada se não mudamos nossa postura frente ao mundo. Mudar nossa postura não é somente verificar itens de segurança, em qualquer lugar que se chega (extintores, portas laterais, máscaras de oxigênio, etc.), isto pode nos tornar paranoicos.
Temos sim que honrar a memória dos que se foram, mas valorizar a vida dos que estão conosco. Dos que chegam na nossa escola pela primeira vez, ou dos que retornam como já fizeram muitas vezes. Talvez possamos olhá-los mais, ouvi-los mais e promover uma educação libertadora como queria Paulo Freire. Para que nossos alunos possam olhar o seu entorno e lê-lo não apenas decifrando códigos, mas levantando hipóteses, descortinando possibilidades. O conhecimento tem um papel essencial na formação dos sujeitos; deve servir para nos tornar “melhores”. E a escola é o lugar de excelência do conhecimento.
Que possamos entender a dura lição que a vida nos deu e discutir do ponto de vista da química, da filosofia, da história, da biologia, dentro das nossas escolas, a dor que dói no Rio Grande.
E que possamos nos perguntar continuamente ao longo deste ano e de muitos anos:  essa instituições de ensino está promovendo a vida?  eu promovo a vida na minha ação pedagógica.
Vamos Educar e Cuidar; cuidar para que a gente não se perca  e  que o outro não se perca.

A maior tragédia de nossas vidas - Fabrício Carpinejar

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